Marie, a rainha de branco
Na noite escura de capas e batinas de Coimbra não é difícil ver um gato branco, mesmo que tenha o pêlo sujo e cinzento como tinha a Marie. Foi recolhida numa berma de estrada e deixou-se levar por quem a encontrou. Vinha cansada, tão magra que se lhe viam os ossos sob o pêlo neles pendurado. Um caco, com os olhos sujos, o nariz arranhado... Mas não dava luta, pelo contrário, dava turrinhas. O cansaço tinha-a vencido e foi levada a um veterinário que olhou para os dentes da Marie e disse que ela já não era jovem. A Marie ronronou. Ela lá sabe há quanto tempo anda nesta terra...
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Fez um período de convalescença e de dia para dia ganhava peso. O seu pêlo ficou luzidio e branco e ela cada vez mais bonita e carinhosa. Durante este período passou por uma casa com cães e outra com gatos, conviveu com todos e cedo demonstrou uma preferência por humanos. Não tem nada contra animais de outras espécies (ou mesmo da sua) mas não lhe dão a mesma confiança que uma pessoa e a suas mãos grandes, boas para fazer festas.
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Com o passar do tempo a Marie recuperou o porte e ganhou nova postura. Continuava muito meiguinha com pessoas mas os outros gatos da casa piavam fininho à volta dela. Escolheu a cama como o seu lugar e deitava-se nela como se fosse o seu trono. Nenhum dos outros ousava subir e perturbar a rainha porque o respeitinho é muito bonito. Como dizia a gatinha Marie dos Aristogatos (musa inspiradora da nossa Marie) "Uma senhora nunca inicia uma luta, mas pode muito bem terminá-la".
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Um dia veio uma família à procura de um gato. A Marie nem se tinha apercebido que estava para adopção mas quando entraram percebeu que havia neles qualquer coisa de interessante. Nessa família já havia um gato e até há pouco tempo havia também uma gatinha de 13 anos. A gatinha faleceu e ficou o Ozzy, o gato da casa como filho único.
A família viu a Marie, a Marie viu a família e não foi preciso muito mais, adoptaram-se uns aos outros. Terá esta família visto na Marie a companheira ideal para o Ozzy? Terá a Marie reconhecido neles uma memória distante de um lar feliz? Não sabemos mas a verdade é que hoje a Marie vive feliz em Moscavide, longe de Coimbra onde foi encontrada mas bem perto daqueles que mais lhe querem bem. Tolera muito bem a companhia do Ozzy e já reina sobre os seus súbditos humanos a quem distribui carícias reais todos os dias.
A família viu a Marie, a Marie viu a família e não foi preciso muito mais, adoptaram-se uns aos outros. Terá esta família visto na Marie a companheira ideal para o Ozzy? Terá a Marie reconhecido neles uma memória distante de um lar feliz? Não sabemos mas a verdade é que hoje a Marie vive feliz em Moscavide, longe de Coimbra onde foi encontrada mas bem perto daqueles que mais lhe querem bem. Tolera muito bem a companhia do Ozzy e já reina sobre os seus súbditos humanos a quem distribui carícias reais todos os dias.
Histórias com finais felizes, como esta, são feitas por mais do que uma pessoa. Começam com quem resgata e terminam na família que adopta mas pelo meio há toda uma série de mãos amigas que vão ajudando a dar corpo a um esforço tão simples e tão complicado como encontrar uma boa casa para um gato que não a tem. Essa ajuda pode ser um acolhimento temporário (ser FAT) ou até uma boleia ou um simples donativo em género. E porque as suas histórias raramente são contadas fica aqui o nosso agradecimento a todos os que ajudaram a Marie (e tantos outros gatos como ela) a fazer o seu percurso da rua até ao seu destino final, a casa.
Longa vida à rainha Marie.
Longa vida à rainha Marie.